Construtoras propõem ajuste na poupança para liberar R$ 150 bi em crédito
Representantes das empresas de construção levaram ao Banco Central (BC) uma nova proposta: acabar completamente com os depósitos compulsórios da caderneta de poupança, liberando mais recursos para abastecer o setor. Em troca, seria criada uma nova linha de redesconto.
A sugestão foi encaminhada pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e pelo Sindicato da Habitação (Secovi-SP). O Banco Central está analisando os termos.
Nos últimos meses, governo, bancos e construtoras têm se debruçado em alternativas para aumentar a oferta de dinheiro tanto para a compra quanto para a construção de moradias no País.
Setor recebe 65% dos depósitos
A proposta das construtoras mexe com algumas regras sobre o uso do dinheiro do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). As regras vigentes determinam que 65% dos depósitos da poupança devem ir para os financiamentos imobiliários, enquanto 15% são usados livremente pelos bancos e 20% são guardados como depósitos compulsórios para assegurar a liquidez do sistema.
Os representantes das construtoras estão propondo que os 20% dos compulsórios deixem de existir, de modo que os recursos sejam liberados para abastecer os financiamentos imobiliários. Isso representaria uma injeção na ordem de R$ 150 bilhões no setor.
Para garantir a liquidez do sistema em caso de uma onda de saques, as construtoras sugerem que 15% do dinheiro da poupança seja garantido por uma linha de redesconto. Ou seja: o Banco Central emprestaria dinheiro aos bancos comerciais que sofressem com falta de recursos, cobrando juro equivalente à remuneração da poupança (TR + 6,17% ao ano). Em troca, as instituições entregariam títulos públicos como garantia.
“Discutindo com economistas e outros agentes de mercado, chegamos à conclusão que este dinheiro poderia ser liberado desde que o BC abra uma linha de redesconto”, afirmou o presidente da Abrainc, Luiz França, em entrevista ao Broadcast. “Aí o sistema fica perfeito. A gente não precisa mais do compulsório como regulador. Vamos ter essa liquidez via linha de redesconto”, explicou.
Sugestão é resposta a ideia do órgão regulador
A sugestão acima é uma resposta das construtoras à proposta que vinha sendo desenhada pelo Banco Central e que despertou preocupações do setor.
O BC pretende que os bancos captem recursos no mercado, via emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e, com isso, abasteçam as linhas de financiamento para a compra e a construção de moradias a taxas de juros reduzidas.
Para cada R$ 1 colocado no setor imobiliário, os bancos ficariam autorizados a tomar R$ 1 da poupança para aplicar de forma livre, em modalidades de empréstimos em que podem cobrar juros maiores (cheque especial, consignado, financiamento veicular etc.).
A lógica é estimular os bancos a ampliar o financiamento da habitação a juros reduzidos para terem o direito de pegar mais recursos da caderneta e abastecer as linhas em que lucram mais.
Companhias sofrem com juro alto
Mas a preocupação das construtoras é que tal medida possa não gerar os efeitos esperados, pois não há garantias de que o dinheiro iria, de fato, para o crédito imobiliário.
Já a sugestão colocada por Abrainc e Secovi não altera a regra do SBPE que já direciona 65% dos depósitos para o crédito imobiliário, nem os 15% para uso livre pelos bancos. As empresas sugerem mexer apenas no compulsório.
“Nós levamos ao BC uma série de preocupações e também de propostas. Não sofremos com falta de recursos, mas sim, com o juro alto. O dinheiro está caro”, frisou o presidente do Secovi-SP, Ely Wertheim, em entrevista ao Broadcast. “Então, levamos soluções para não dar cavalo de pau no SBPE”, disse.